Ideias e pensamentos de um dos maiores paisagistas da nossa história – BURLE MARX

Burle Marx era um versátil artista: pintava, fazia joias, tapeçaria, murais e azulejos. Mas, ficou famoso e respeitado especialmente pelo seu trabalho como paisagista. Não por acaso, recebeu do Instituto dos Arquitetos dos EUA o título de “Real Criador do Jardim Moderno”. Esse extraordinário jardineiro criou nada menos do que os Jardins do Itamaraty, em Brasília, os Jardins da Unesco, em Paris, os Jardins das Nações, em Viena, o Jardim do Parque Municipal de Hamburgo, na Alemanha, o Jardim do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro entre inúmeras obras mundialmente reconhecidas.

Conheça um pouco como ele pensava e como alimentava a esperança de viver e colaborar com um mundo melhor e mais verde.

“Um jardim é criado com sensibilidade, inteligência e compreensão da natureza. Em um jardim inglês é possível ver grandes espaços com apenas 8 árvores, por exemplo. Em um japonês, um pedaço mínimo torna-se um universo fascinante. É importante que um jardim também tenha algo a dizer”.

“Os hortos, chácaras e arborização urbana têm sempre as mesmas espécies. Todos padronizam, plantam sempre as mesmas coisas. É preciso acabar com essa monotonia, difundindo novas plantas, tão belas quanto as já conhecidas”.

“Os jardins devem ser projetados com a intenção de educar. Devem ensinar a conviver, fazer amigos e a despertar para o prazer da vida”.

“O primeiro cuidado do brasileiro quando vai construir uma casa é derrubar as árvores do terreno. É o medo ancestral das florestas, herança dos colonizadores portugueses”.

“ Os jardins não começaram comigo e nem vão terminar depois de mim. Espero que hajam outras pessoas  interessadas na perpetuação das plantas.”“Um jardim em São Paulo deve ser tecnicamente diferente de um jardim no Rio pois o princípio inicial de qualquer trabalho paisagístico é conhecer as plantas e seu habitat”.

“Com o tempo eu passei a imaginar a beleza natural organizada. Queria uma coisa que tivesse ritmo, cor, surpresas e emoção estética. Um jardim é isso”.

“A natureza por si só é bela. Então, eu não preciso fazer mais do que organizá-la, eliminando o supérfluo”.

“No Brasil existem as caatingas, o cerrado, a flora das florestas costeiras, a Amazônia, a restinga. Cada grupo botânico com suas plantas características. E é importantíssimo mantê-las. Jardins feitos numa região de caatinga devem ter espécies da região”.

“Não existem plantas feias. Existem plantas bem ou mal agrupadas. É necessária uma capacidade analítica que permita escolher as plantas segundo as qualidades que melhor se adaptem aos nossos propósitos”.

“É preciso ter critério na escolha das condições de solo, umidade e exposição ao sol apropriadas para a sobrevivência da planta”.

“É também preciso saber dispor os pequenos, médios e grandes volumes, sem deturpar a fisionomia da paisagem e mantendo sempre a qualidade estilística no que se faz”.

“ É possível plantar um jardim para cegos. Eu ainda não projetei nenhum, mas é possível. Ele terá que ter, antes de tudo, cheiro, plantas aromáticas, acidentes caprichosos e plantas táteis”.

 “O que é preciso? Plantar!”

“ Que se façam reflorestamentos com Pinus elliottii e Eucalyptus em terras já devastadas , compreende-se. Mas, botar abaixo uma floresta natural para plantar essas espécies não tem sentido. Nas matas de eucalipto não há alimento para pássaros nem para os animais. São matas silenciosas onde só se ouve o ruído do vento. Quer dizer, estão trocando matas cheias de vida por florestas sepulcrais”.

“ O convencionalismo na resolução dos espaços urbanos a serem utilizados como praças em nosso país, levou a uma alarmante uniformização de soluções. O que se observa é uma monótona repetição de erros que acontece, talvez, pela facilidade de imitação”.

“A arte é importante pela curiosidade nela contida. Aquilo que o homem deve sempre buscar. Viver sem buscas, mecanicamente, deve ser uma espécie de morte, muito pior que a natural. Aceitar tudo como se fosse fato consumado é uma forma ´burra´ de viver”.

“Aprendi a viver através das plantas, vendo-as nascer, crescer, morrer. Amo as plantas como se fossem seres humanos”.

A partir de um simples olhar…
Foi olhando para as roseiras do jardim da casa de sua mãe, aos 3 anos de idade, que o paisagista sentiu despertar seu amor pelas plantas.
Com uma coleção de mais de 3.500 espécies de plantas, o sítio Roberto Burle Marx, localizado em Barra da Guaratiba, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, é hoje patrimônio mundial da UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Alí, Burle Marx fez um “laboratório” ao ar livre para conhecer o comportamento da flora brasileira, até então pouco valorizada nos projetos paisagísticos. A partir dessa experiência, ele criou o jardim tropical moderno que representa uma mudança de paradigma no paisagismo: valiosa contribuição para a humanidade e para a natureza.

Por: Cynthia de Oliveira Frank