Plantas Comestíveis (Nada) Convencionais
Nossas avós já diziam que o alimento e o remédio que necessitamos cresce em nossos quintais.
Hoje os quintais já não existem na mesma proporção, mas as alimentícias plantas espontâneas
e nativas permanecem junto ao homem aguardando seu reconhecimento.
Você já viu um pé de alface nascer espontaneamente sem ser cultivado?
Ou uma suculenta beterraba surgir do nada numa fresta de parede?
➜ Com certeza esse “fenômeno” só poderia acontecer com a intervenção humana ou com o cultivo certo e preciso de uma horta.
Porém, existe sim uma prodigalidade natural que faz nascer em locais inusitados plantas resistentes, estáveis e comestíveis!
Elas crescem espontaneamente e de forma tão abundante que costumamos considerá-las matos ou pragas invasoras o que
nos leva a avidamente retirá-las do terreno para, em seu lugar, cultivar nossas conhecidas folhas e raízes.
Consideradas plantas exóticas, alfaces, cenouras, chicórias, escarolas, almeirões não são nativos dos nossos ambientes naturais
e quase nunca nascem espontaneamente, embora sejam plenamente adaptadas.
A boa nova é que podemos cultivar as nossas costumeiras verduras contemplando a presença de suas vizinhas espontâneas ou nativas.
A natureza é sábia e em cada região e época do ano crescem livremente as plantas mais adequadas para as necessidades alimentares locais,
afirmam os estudiosos.
Há algum tempo as plantas consideradas espontâneas e nativas têm despertado o interesse dos pesquisadores por possuírem maior
diversidade de nutrientes que uma hortaliça comum, que pode apresentar maior teor de uma determinada vitamina, mas não tem
essa diversidade característica das plantas que nascem por si.
Tendo-as à mesa não precisamos comer muita quantidade de alimentos para obter os elementos vitais à saúde.
➜ Além da diversidade de nutrientes, os pesquisadores afirmam que essas plantas também apresentam maiores
teores de princípios ativos: substâncias que auxiliam na prevenção de doenças e favorecem a imunidade.
Conheça alguns exemplos das mais conhecidas plantas:
Beldroega (Portulaca oleracea)
– Plantinha rasteira com caule bem tenro semelhante à “onze horas”.
– Possui pequenas flores amarelas terminais. Nasce fácil em hortas, jardins, possui folhas pequenas, carnudas e brilhantes.
– Pode ser usada crua ou cozida em saladas e ensopados.
– Faz bem aos rins e à bexiga.
Picão preto (Bidens pilosa)
Quem andando pelo mato não se deparou com uma profusão de sementes que grudam no tecido da calça?
Se forem como palitinhos pretos, quase certo que serão as sementes do picão preto.
– Planta de cerca de 80 cm de altura.
– Caule quadrangular.
– Flores amarelas.
– Excelente para o fígado podendo ser usada em chás, saladas e como base de sopas e refogados.
Caruru (Amaranthus spp.)
É usado refogado a exemplo do espinafre, sendo muito rico em ferro
e indicado para problemas com o fígado (não deve ser utilizado por quem apresenta problemas de cálculos renais).
– Cresce como mato nos locais onde há uma boa terra e matéria orgânica.
– As pequeninas flores nascem em espigas que formam uma espécie de penugem.
– A parte comestível são as folhas.
Dente-de-leão (Taraxacum officinale)
Conhecida erva medicinal, suas folhas que nascem em touceira, são denteadas e ricas em ferro e potássio.
– As flores são amarelas e depois de secas formam sementes delicadas envoltas em penugem na forma de um pom-pom.
– As folhas, um pouco amargas, quando mais velhas apresentam uma substância leitosa que não faz mal à saúde.
– Podem ser usadas em saladas e refogados, em sucos ou como chá. Da raiz torrada e moída faz-se um nutritivo café.
– Ótima para o fígado, rins, afecções ósseas e anemia.
Tanchagem (Plantago major)
– As folhas picadas podem ser acrescidas às sopas, sucos verdes ou podem ser servidas refogadas.
– Contém vitamina K ajudando na coagulação do sangue, na recuperação das vias respiratórias, sendo ainda anti-inflamatória.
– A planta forma uma pequena touceira de folhas largas com nervuras bem acentuadas e um pendão que brota bem ao centro,
onde fica a inflorescência e as futuras sementes.
– Também pode ser usada na forma de chás.
Serralha brava (Sonchus oleraceus)
– Pode ser encontrada em volta de qualquer horta.
– Tem folhas verde-claras, serrilhadas, triangulares e florzinhas amarelas.
– Usa-se antes que dê flor, refogada ou crua em saladas ou em chás.
– Um pouco amarga, fortalece o sistema nervoso, o sistema digestivo e os olhos.
Mentruz ou mastruço (Lepidium americanun)
– Colocado em saladas é um ótimo remédio para bronquite e tosse e também para todo tipo de contusão, ajudando a dissolver o sangue coagulado.
– Tem um sabor forte e picante. Como planta nativa é encontrada principalmente no inverno.
Cuidado para não confundir com a planta chamada Mastruz ou Erva-de-Santa Maria (Chenopodium ambrosoides) que tem outras propriedades e não deve ser ingerida.
Erva-de-Santa Maria (Chenopodium ambrosoides)
Capuchinha ou chagas (Tropaeolum majus)
– Cresce na beira de estradas ou em jardins cobrindo a terra com suas folhas arredondadas e tenras e suas flores amarelas, laranja ou vermelhas.
– Tanto as flores como as sementes e as folhas são comestíveis e podem ser acrescidas às saladas e sucos.
– Com as sementes podem ser feitas conservas para uso em saladas de batata, etc. como substituto das alcaparras.
– Purifica o sangue e o sumo das folhas ajuda na eliminação de fungos de pele e outros problemas dermatológicos.
– Possui considerável teor de vitamina C sendo boa também para glaucomas.
– Ocorre com maior preponderância em regiões de clima frio.
CUIDADOS AO CONSUMIR
Atenção para não colher as espontâneas em locais onde o fluxo de carros é intenso (avenidas, ruas, beira de estrada)
nem em locais onde haja contaminação do solo (próximo a esgoto), ou próximo a mananciais poluídos.
Espontâneas que nascem em pastos ou locais de muito movimento de animais também devem ser evitadas para o consumo.
Sempre lavar muito bem folhas, caules, etc. antes de utilizá-los.
MATINHOS PAISAGÍSTICOS
Segundo os grandes especialistas, não poderíamos chamar as plantas espontâneas de ervas daninhas pois tudo tem uma função na natureza.
As espontâneas ou nativas possuem uma vitalidade impressionante. São quase imunes às doenças que atacam a maioria das outras plantas, além de ótimas ao paladar.
Paisagistas, biólogos, agrônomos quase sempre tem uma unanimidade: o conceito de daninha existe porque elas nascem em profusão e podem atrapalhar o cultivo de outras.
Mas tudo é uma questão de manejo. Se retirarmos apenas o excesso das espontâneas, todas poderão conviver no mesmo canteiro ou jardim.
Quanto à estética é mais uma questão cultural. Existem estilos de jardins que mesclam vários tipos de plantas e são lindos, vigorosos e até mais saudáveis.
RESGATE GASTRONÔMICO
Nutricionistas, agrônomos e engenheiros de alimentos se uniram em vários projetos de avaliação nutricional e sensorial das plantas espontâneas.
Durante as avaliações sobre a aceitabilidade dos pratos a aprovação foi de quase cem por cento.
➜ Conheça algumas das receitas aprovadas pelos especialistas:
Charutos de folhas de capuchinha com recheio de tofú — Amasse o tofú com o garfo e tempere com azeite, sal ou shoyu, salsinha e orégano.
Coloque a pasta sobre as folhas da capuchinha e feche-a como se fosse um “charuto”. Para mantê-lo fechado utilize um palito de ponta fina.
Salada de beldroega e tomate — Lave bem os vegetais, pique e tempere com shoyu, vinagre, azeite e outros ingredientes a gosto.
Refogado de mastruz — Coloque óleo ou azeite na panela e temperos como salsinha, cebola.
Lave e pique o mastruz e coloque-o junto com os temperos.
Acrescente pouca água e deixe refogar.
Sopa de fubá com caruru — Coloque em uma panela, água suficiente para cozinhar os ingredientes, como tomate, salsinha, salsão, cebola, sal.
Deixe ferver por meia hora para tomar gosto. Retire do fogo e coe.
Coloque novamente em fogo baixo acrescentando o fubá aos poucos, mexendo sempre com colher de pau para não encaroçar.
Depois do fubá bem cozido, acrescente o caruru, deixe ferver mais um pouco e está pronto.
Todas as plantas espontâneas citadas também podem ser usadas nos caldos básicos de verduras para dar mais gosto e mais força às sopas.
TRAPP
Cultivando o amor pela terra.