28 de fevereiro de 2022

Incentivar o companheirismo e a harmonia

O ditado “a união faz a força” é plenamente justificado na vida das plantas, pois um dos fatores que mais influencia os vegetais é a diversidade de companhias. Todo mundo sabe que a solidão é causa de várias patologias nos seres humanos, nos animais e agora, sabemos, nas plantas e no solo também! Por isso, não podemos deixar de lado o conhecimento e a prática dessa “troca”.

O solo, por exemplo, gosta de companhia, de não ter que sustentar monoculturas que acabam virando áreas sepulcrais.  Aliás, você já parou para pensar porque a terra das matas é tão saudável e não cansa nunca? É que nelas existe uma diversidade de plantas que mantém umidade e proporciona um bem-estar mútuo evitando até doenças e pragas. Além de estarem blindados pela saúde do solo, esses vegetais – em sua biodiversidade – atraem insetos de diferentes tipos trazendo benefícios para o ecossistema, pois no meio dessa “sociedade” nenhum deles vira praga.

É como entre as pessoas: a diversidade protege e cura porque a vida é troca. Pare de trocar e sua vida perde um pouco o sentido e assim é com a Natureza.

No caso da variedade de plantas, observe que existem, árvores, arbustos, ervas e capins, cada espécie com um tipo de tronco, folha e raiz. Por meio dessas partes, as plantas interagem e trocam entre si substâncias químicas que as protegem e renovam a terra deixando-a mais arejada, respirando melhor.

Por dentro da química da amizade

Existe uma ciência exclusiva para estudar essa relação entre os vegetais. Chama-se alelopatia que é o estudo das interações entre os indivíduos de uma comunidade através de substâncias químicas.

Essas substâncias, produzidas desde as células, têm a princípio a função de proteger a própria planta que as produziu, mas como na Natureza nada vive só para si a ação dos aleloquímicos vai muito além. Exemplos:

Quando uma planta nasce espontânea e esse nascimento é prematuro por ser inadequado à composição vegetal que deve se manifestar ali, entram em ação as substâncias que controlam esses crescimentos como é o caso dos óleos essenciais que circulam em determinadas plantas e são responsáveis por esse cuidado.

Já outras substâncias estimulam o aparecimento de novas espécies. Da mesma forma, substâncias que são tóxicas para uma planta podem ajudar outras a crescerem belas e seguras dentro do mesmo espaço.

Proteger as sementes da germinação fora do tempo é outra tarefa das substâncias alelopáticas. O ácido cítrico é um ótimo exemplo. Está presente no sumo de muitas frutas assegurando a vida das sementinhas por não deixar que elas germinem antes das condições apropriadas.

Emitir substâncias repelentes, atraentes ou tóxicas para certos insetos é tarefa de algumas árvores, como a nogueira, que é campeã na produção de quinonas. Esse aleloquímico também circula por meio das raízes e ajuda a tornar todas as plantas que estão por perto mais resistentes a determinadas doenças.

Outras plantas como as da família das Brássicas (couves, repolho, rabanete, nabo, etc.) emitem gases que protegem o solo de patologias indesejáveis. Essas plantas produzem verdadeiros germicidas que sendo naturais não prejudicam o verde, mas antes atuam com a “sabedoria” necessária.

Uma interessante precaução ocorre com os frutos verdes (imaturos) os quais contêm tanino, responsável pelo seu gosto desagradável. Essa é uma estratégia da árvore frutífera, que impede que seus frutos sirvam de alimento antes da hora.

Conservação também é com os aleloquímicos. Exemplo: é devido à alta concentração de tanino nas madeiras de lei que elas se tornam tão resistentes ao ataque de fungos e insetos.

A interação entre espécies colabora ainda com processos de nutrição, reprodução e fotossíntese.

E QUAIS SÃO AS CAMPEÃS EM AJUDA MÚTUA?

Árvores e arbustos: amoreira, ingá, mamona, leucena, urucum, angico, monjoleiro, pitanga. Cereais e grãos: girassol, milho, sorgo, adlai, gergelim. Adubação-verde: guandu (comestível), crotalária e feijão-de-porco (não comestíveis).

Capins e gramas: capim-napiê, capim-elefante, grama-amendoim ou batatais. Aromáticas e medicinais: lavanda, coentro, alecrim, manjericão, capuchinha, arruda, alho. Outras: mandioca, abacaxi.

Deixe crescer adequadamente as espontâneas como caruru, beldroega, assa-peixe, picão, etc. Elas são altamente especializadas em trocas positivas.

Autora: Cynthia de Oliveira