Um outro olhar para as plantas de vasos
No livro de Peter Tompkins e Christopher Bird “A Vida Secreta das Plantas”, que encabeçou listas de best-sellers nos EUA, os dois cientistas trazem o tempo todo provas muito bem embasadas de que as plantas são seres sencientes, têm inteligência e vontade, memorizam experiências de prazer e de dor, comunicam-se conosco. E não se trata de misticismo, mas de uma verdade científica.
Então, um cuidado especial que podemos e devemos ter com as espécies em vasos é experimentar comunicar-se com elas, olhá-las com atenção, interesse, dar-lhes um bom dia, boa tarde, perguntar como passaram a noite, se estão bem. Você vai perceber uma interação interna ir surgindo. Uma espécie de pureza começa a permear o ambiente e o seu coração. As essências humana e vegetal estão em comunhão.
Bom dia, amigo, como passou esta noite? Está tudo bem?
Historinhas reais e experiências de amor vividas junto à essas espécies…
por: Cynthia Oliveira, jardineira, ambientalista e pesquisadora
Flor de puro louvor
Uma planta diferente. Foi isso o que pensei quando a vi pela primeira vez.
Ela estava em um vaso sobre uma grande mesa e se espalhava sobre ela como uma onda na areia. Não sabia seu nome, não conhecia seus hábitos. Dessa planta “mãe” tirei uma folhinha e a plantei num vaso. Ela cresceu, ficou adulta e de repente começaram alguns movimentos… das pontas das folhas ou de alguma gema emergiam pequenos botões florais protegidos por uma espécie de cabeleira de tom rosa. Os botões cresciam a cada dia e num momento parecia que tinham chegado ao ápice. Agora era abrir… Então, numa noite presenciei o mais belo despertar de um botão floral que meus olhos já viram. Eles se abriram e mostraram flores imensas de um branco branquíssimo. Dentro delas ressaltavam os órgãos reprodutores. A parte masculina se apresentava como um exército de estames e a parte feminina se colocava à frente em uma expressão de beleza única.
Esse espetáculo era também perfumado com um aroma agradabilíssimo e durou apenas algumas horas da noite. Quando acordei no dia seguinte, todos os botões haviam murchado e não havia mais flor. Aprendi, então, o que é viver para Deus. Tanto preparo para expressar por poucas horas e à noite, uma beleza que quase ninguém veria. Mas as flores queriam se mostrar para seu Criador. Eu apenas peguei uma carona nesse espetáculo, provavelmente um gesto de reconhecimento da planta por quem a plantou.
(Anos depois, conversando com um amigo descobri que esse incrível ser vegetal chama-se Epiphyllum oxypetalum, é da família dos cactos e seu nome popular é “Dama-da-noite verdadeira”).
O resgate das dracenas e de outras plantas
Caminhando pela praça da cidade, deparei-me com várias espécies sendo arrancadas dos canteiros. Estavam jogadas no chão algumas quase mortas.
Diziam os jardineiros que era uma reforma do local. Fosse o que fosse dava para sentir a dor das plantas. “Não posso levá-las todas comigo”, disse, “mas vou levar alguns pés como um ato simbólico em nome de todo o grupo que foi arrancado”. Alguns desses exemplares eram duas dracenas. Muito fortes elas não demonstravam abalos, mas meu coração sentia que estavam sofrendo.
Cheguei logo em casa e fui providenciando o melhor que pude para atender de forma harmoniosa aquele resgate. Foi assim que cada espécie foi tendo sua nova morada. Algumas foram para os pés de uma imagem de Nossa Senhora que existe nos arredores. Outras foram doadas a amigos e as dracenas ficaram comigo. Não foi nada planejado, as coisas iam simplesmente acontecendo, como se uma inteligência maior fosse encaminhando cada planta para onde deveria estar.
As dracenas, muito tímidas, ficaram juntas em um vaso sobre o murinho da lateral da casa. Só dois anos após o ocorrido começaram a dar sinais de crescimento e total adaptação.
Entendo que o choque pelo qual passaram foi maior do que pude pensar.
As outras plantas, que acompanhei de perto, passaram pelo mesmo processo e só agora parecem estar retomando sua felicidade e confiança no ser humano.
Com essa história não quero dizer que uma planta nunca possa ser retirada do local onde vive. Se assim fosse, não haveria, em muitos casos, a renovação de um jardim. O que quero dizer é algo sobre o modo como retiramos as plantas do seu local, sem pensar em dar-lhes um novo espaço que não seja a caçamba do lixo. Imagine sermos retirados de nossas casas, sem nenhum aviso prévio e termos esse fim…. Aquilo que não queremos para nós não devemos querer para nenhum ser deste mundo.
O susto da samambaia
Ela chegou à nossa casa em um pequeno caminhão repleto de plantas para vender. Logo que a vimos sentimos: É ela! Compramos o vaso e o penduramos no beiral de uma janela. Escolhemos o local por ser o que mais gostávamos sem sequer perguntar a recém-chegada onde gostaria de ficar.
Resultado: em dois dias suas verdes folhas ficaram amareladas. Levamos aquele susto, pois afinal o beiral não tomava sol o dia todo por isso o escolhemos… mas, para uma samambaia basta uma hora de sol para suas folhas mudarem de cor. Inexperiência, falta de atenção e sensibilidade para cuidar de folhas de intenso verde, aquelas que não suportam sol direto.
Seu trauma foi tão forte que, por muito tempo, apesar de saudável e bem colocada em local protegido, as folhinhas novas da amiga samambaia continuavam a brotar amareladas para nunca nos deixar esquecer o susto que passou e assim, evitar que outras plantas semelhantes passassem pelo mesmo descuido.
Foi preciso um bom tempo para a situação mudar e se estabilizar. Hoje, suas folhas já começam a nascer verdes e seu formato passou a adquirir a forma viçosa e imponente das samambaias rústicas e exuberantes.
Toque Verde
Você já olhou bem atentamente para aquela planta em sua casa? Já permitiu que aquele ser familiar mas misterioso que chamamos de planta lhe ensine seus segredos?
Já percebeu a profunda paz que emana dessa planta?
Já sentiu como ela está cercada por um campo de calma?
No momento em que você percebe a calma e a paz que emanam de uma planta, ela se torna sua mestra.
Do livro “O Poder do Silêncio”, de Eckhart Tolle (Editora Sextante)
Autora: Cynthia de Oliveira