Como Cuidar do Jardim Durante o Inverno
Por Alyson Alves
Embora o inverno no Brasil não seja tão rigoroso como em outros países, ainda sim esse é um período em que a maioria das plantas requer maiores cuidados. Isso porque o inverno é o período de dormência (repouso vegetativo) para a maioria das espécies vegetais, ou seja, as espécies nesse período têm seu metabolismo reduzido, a fim de “recarregar as baterias” para a intensa atividade metabólica que recomeçará com a proximidade da primavera.
Porém, nesse período, a perda da seiva se apresenta muito mais atenuada do que durante os períodos de vegetação intensa, permitindo que, ao reiniciar a atividade vegetativa primaveril, a planta emita as brotações com viço, sem desgaste de forças para a reposição da seiva e com mais resistência a pragas e doenças. Mas esse estado das plantas no inverno não significa que não precisem de cuidados, muito pelo contrário. Os cuidados prestados às plantas durante o inverno vão refletir na saúde e no vigor com que desabrocharão na estação seguinte.
O inverno é um período de baixa manutenção, mas que exige alguns cuidados, para que as plantas o atravessem com vitalidade. No paisagismo, é o momento de planejar, escolher as espécies que vão ser plantadas na próxima estação, decidir como serão os canteiros e preparar a terra para as intensas atividades da primavera.
Com os devidos cuidados, as plantas dos jardins e dos vasos podem resistir bem aos efeitos do frio. Além disso, muitas espécies enfeitam e colorem nosso inverno, pois florescem nessa época.
O período também é bom para fazer o transplante de trepadeiras, arbustos e árvores que estiverem em seu período de dormência; também é um ótimo período para plantar bulbos.
Os bulbos são plantas curiosas: em forma da batata, “guardam” uma planta inteira em estado latente, que tem energia para cumprir o ciclo completo de crescimento. Quando acaba a floração, a parte aérea seca e some, mas volta a crescer e florescer no ano seguinte. Os bulbos plantados na estação fria terão belas flores no início da primavera. São ótimas opções de bulbos: amarílis (açucenas), lírios, gladíolos, helicônias, dálias, dentre outros.
*Exemplos de espécies que florescem no inverno são: Amor-perfeito (Viola tricolor), Azaléia (Rhododendron indicum), Bico-de-papagaio (Euphorbia pulcherrima), Caliandra (Calliandra tweedii), Congeia (Congea tomentosa), Cravo (Dianthus caryophyllus), Delfínio ou (Delphinium ajacis), Glicínia (Wisteria sinensis), Ipê amarelo (Tabebuia chrysotricha), Ipê rosa (Tabebuia pentaphylla), Jasmim-amarelo (Jasminum primulinum), Jasmim-manga (Plumeria sp.), Kalanchoe (Kalanchoe blossfeldiana), Orquídea Cymbídio (Cymbidium híbrido), Eritrina (Erythrina speciosa).
O inverno também é época propícia para o combate de pragas e doenças. A maioria delas reduz sua proliferação nesse período, sendo um bom momento para controlá-las de forma mais eficiente. Fugindo à regra, algumas doenças fúngicas aumentam nesse período, principalmente em regiões com longos períodos chuvosos. O mesmo acontece com as lesmas e caramujos, que se aproveitam da umidade e da temperatura amena para devorar as folhas verdes.
Para evitar a infestação por essas pragas e doenças nesse período, quando as plantas estão mais sensíveis, é importante remover os restos das plantas anuais de verão, que estão mortas ou fracas nos canteiros. É preciso retirar galhos secos, flores, frutos e folhas caídos e colocá-los na compostagem. Essa medida ajuda a manter as pragas afastadas. Pulverizações preventivas, com fungicidas a base de cobre, como a calda bordalesa, devem ser realizadas pelo menos a cada mês nas frutíferas, orquídeas, arbustos, mudas, sementeiras, etc.
A adubação química dos jardins no inverno deve ser evitada. No entanto, a correção dos solos deve ser feita nessa época. Para isso, aconselha-se uma análise do solo, que, tal como a correção, deve ser executada por um profissional.
Nas plantas que estão em crescimento, floração e frutificação, adubações são bem vindas, principalmente com os adubos orgânicos, que têm liberação mais lenta. Em locais frios, misture esterco bem curtido e farinha de ossos à terra dos canteiros e dos vasos de bulbosas, petúnias, roseiras, prímulas, begônias e amores-perfeitos.
No geral, as adubações são recomendadas apenas para as plantas que se desenvolvem e florescem no inverno.
O inverno é também o tempo ideal para preparar os jardins para a chegada da primavera, e a poda é sem dúvida um desses cuidados primários que devem ser tomados durante o inverno. Com a dormência, muitos galhos ficam secos. A sua remoção feita cuidadosamente fará com que a planta revigore mais rapidamente ao chegar a primavera, período em que a seiva volta a circular com todo o vigor, porque apenas será direcionada para as partes saudáveis da planta.
Não é muito difícil reconhecer as plantas que podem ser podadas nessa época. Geralmente, essas plantas são as originárias de clima temperado e as que perdem as folhas no inverno. Não são recomendadas as plantas que estão em flor ou com botões, mesmo que tenham perdido as folhas, pois elas não estão dormindo, estão em plena atividade.
No inverno típico de nossas regiões subtropicais, um pouco de atenção com o jardim pode garantir uma estação com flores e frutos, o que constitui uma preparação das plantas e do solo para a primavera que se aproxima. Algumas plantas são naturalmente resistentes ao frio, não exigindo tarefa alguma no inverno, como as coníferas (pinheiros e ciprestes).
Há também exceções quanto à época de poda. É o caso, por exemplo, da necessidade de uma poda urgente de uma árvore que esteja comprometendo uma construção. O fato de ser feita a poda em outra época do ano não chega a matar a planta. Porém, a exceção não contraria a regra: existe a época mais adequada para esse importante trato cultural das plantas. A orientação geral a ser seguida é a de que todas as plantas devem ser podadas após as fases de floração e de frutificação.
Mas existem algumas espécies, notadamente aquelas utilizadas para a formação de sebes, que requerem podas durante todas as estações do ano, menos no inverno, quando entram em repouso vegetativo. Entretanto, para que haja maior precisão, tais podas devem ser denominadas tosas, porque atingem apenas superficialmente as extremidades da vegetação. Espécies que requerem podas nesse período são: Roseira, Macieira, Pessegueiro, Ameixeira, Figueira, Clerodendro, Pereira, Videira, Abélia, Kiwizeiro, Bico-de-papagaio, Cipó-uva, Jasmim, Framboesa, Acácia-mimosa (após a floração).
Com relação às regas, devemos observar certas situações: o inverno é por natureza um tempo frio e úmido. No entanto, temos assistido nos últimos anos a períodos longos de ausência de pluviosidade durante o inverno. Nesses casos, pode ser necessário proceder à rega dos jardins. Mas atenção: o frio provoca menos evaporação e transpiração nas plantas e no solo, o que faz com que a rega possa trazer consequências trágicas às plantas do seu jardim. A água em excesso em combinação com o frio pode provocar o surgimento de fungos e apodrecer as raízes. Portanto, a melhor maneira de determinar se o seu jardim necessita ou não de rega é utilizando a ponta do seu dedo: enterre-o na terra do jardim e “meça” a umidade através desse princípio empírico e simples que continua a ser o mais eficiente.
As plantas de interior devem ter suas regas reduzidas nessa época do ano, porque, com a redução do calor, diminui também a necessidade de água nas plantas.
Outro cuidado importante é regar as plantas pela manhã, por dois motivos. O primeiro é que a rega à tarde e à noite faz com que a terra permaneça muito tempo úmida, favorecendo o aparecimento de pragas e doenças. O segundo motivo é que, caso tenha ocorrido alguma geada à noite, o gelo pode derreter antes do sol, evitando, assim, as típicas queimaduras nas folhas.
As regiões que apresentam inverno muito seco, como é o caso do Planalto Central, exigem observação constante da taxa de umidade do solo. De modo geral, nesses locais, a vegetação solicita regas menos espaçadas, pois a evaporação ocorre em níveis muito rápidos. Mesmo as cactáceas, que em outras regiões quase não precisam de água, devem receber regas periódicas, sempre que você perceber que a camada superficial do solo está muito seca.
Nas regiões Sul, Sudeste e em certas localidades da região Centro-Oeste, as baixas temperaturas hibernais tornam a água da torneira fria demais para ser utilizada diretamente nas plantas. Procure regá-las com água ligeiramente morna.
Para finalizar os cuidados com o jardim no período de inverno, se necessário, faça uma proteção contra o frio: coloque cobertura morta nos canteiros. Essa cobertura, além de servir como isolante térmico, irá repor a matéria orgânica, melhorando a fertilidade e a textura do solo, bem como proteger as plantas na estiagem. Serragem, casca de pinus, folhas secas, apara de grama, entre outros materiais podem ser utilizados para formar essa cobertura.
As plantas tropicais também merecem uma atenção especial no frio. Elas são sensíveis às geadas e às temperaturas muito baixas e devem ser protegidas durante a noite com lonas, plásticos, tecidos de tnt ou mantas bidim. Esse cuidado serve também às hortaliças, assim como às mudas de flores e forrações mais delicadas.
Com todos os cuidados tomados com as plantas no período de inverno, propiciarão um jardim mais bonito, saudável e vigoroso na primavera.
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